Como é aproximar-se à universidae nos EUA? Para falar de forma geral, eu diria que o sistema educacional dos Estados Unidos procura uma visão mais tri-dimensional dos candidatos levados em consideração para preencher as vagas nas nossas universidades do que no Brasil. Também acho o processo nos EUA menos reservado para as elites; permite mais oportunidades para erros e mudanças de escolhas de áreas de estudo; nele existem mais serviços de ajuda para o corpo estudantil já inscrito na instituição; há menos conexão com a igreja; exige mais envolvimento do estudante; mas também é muito (exageradamente) mais custoso. Uma das diferenças que mais se destaca é a questão da moradia. Quando os estudantes universitários nos EUA decidem que vão frequentar uma universidade, freqüentemente essa decisão reflete um compromisso total de quatro anos de suas vidas. Os jovens de 18 anos abandonam as suas casas e as suas cidades e se mudam a um novo lugar, o qual implica não somente uma formação intelectual, mas também social. O estudante acaba formando novas comunidades fora do seu lar que servem às vezes como “segundas famílias,” tais como as fraternidades e as irmandades. A segunda coisa que mais me chama a atenção tem a ver com o processo de fazer a inscrição. No Brasil, a entrada na universidae depende do resultado de um entre dois exames: o Vestibular ou o ENEM. Nos EUA, o estudante tem que fornecer muitas informações adicionais sobre ele ou ela mesmo para ter um arquivo completo e pronto para uma revisão feita por múltiplas pessoas/uma banca examinadora. Temos tantos exames quanto o Brasil, dois que são o SAT (Scholastic Aptitude Test) e o ACT (American College Testing ), que é mais popular nos estados do Meio-Oeste. Junto com os resultados de um destes exames vão toda nota que o ou a estudante recebeu durante os seus 4 anos do ensino médio, duas ou três cartas de recomendação dos professores que teve o/a estudante, um ensaio no qual o/a estudante expressa o seu interesse, várias descrições das atividades nas quais o/a estudante participava nos anos de Ensino Médio, tanto no campo do trabalho remunerado quanto em atividades extracurriculares e passatempos voluntários, e além disso, às vezes também se pede uma entrevista com o estudante para realmente saber como ele/ela se expressa. Ou seja, nos EUA, as universidades mais seletivas querem saber realmente quem são as pessoas que vão fazer parte dos seus campi. Finalmente, tenho a sensação de que as universidades estadunidenses mantêm um maior investimento nos estudantes uma vez que são aceitos. Ouvi falar de brasieleiros que receberam bolsas para estudar no exterior, por exemplo, mas nunca ouvi falar de estudantes brasileiros que receberam bolsas para estudar nos seus próprios países. Também eu trabalhava como consultora em um centro de escrita que os estudantes freqeüentavam para procurar ajuda com a formação dos seus argumentos e a organização das suas ideias para ensaios. Esse serviço formava parte de muitos outros serviços oferecidos para os estudantes, inclusive serviços de apoio psicólogo e emocional. E além disso, existe uma infinita quantidade de clubes e grupos de interesse especial como de etnias minoritárias, LGBTQ, proteção do meio ambiente, jornais, etcétera. Como a professora mencionou, visto que os estudantes brasileiros normalmente vivem com as suas famílias, sua “vida dupla” implica menos dependência nas universidades para a formação destas comunidades. Enfim, acho que frequentar universidade é muito menos custoso no Brasil do que nos EUA, mas também o estudante recebe o que paga: se ele/ela paga somente pelo direito de aparecer, escutar o/a professor/a e ser avaliado/a, é o que recebe. Nos EUA, os estudos universitários formam uma forte parte da cultura e representam um rito de passagem. Parece que no Brasil o acesso à educação superior ainda forma parte dos sonhos dos pobres e não da sua realidade. Aqui até os pobres podem aproximar-se com bolsas e empréstimos enquanto no Brasil parece existir menos apoio do que nos EUA para alcançar a mesma meta. No entanto, é também importante reconhecer que os estadunidenses vivem com uma maior dívida relacionada com a academia do que no resto do mundo e que isso limita as liberdades que seguem esta época de nossas vidas.
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February 2020
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