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Julieta procura Heimlich

12/8/2014

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Since spending the summer in Middlebury, I have tried my hand at creative writing in Portuguese. A large inspiration for this was the work Comédias para se Ler na Escola by Brazilian writer Luís Fernando Veríssimo. He is famous for a writing genre called a “crônica,” or a “chronicle,” which is generally brief, funny and ironic. He’s the most clever and accessible Brazilian writer I’ve ever encountered and his works are included in high school literature classes in Brazil. This semester, I have taken on the challenge of designing an independent study to see if I could imitate his style. The following is the third and best of my attempts. Please enjoy.

Synopsis: After waking up choking, Raquel decides she needs an intimate partner in life, but her manner of recruitment is less than conventional.

Julieta procura Heimlich

Raquel despertou tossindo forte. A sua garaganta tentava puxar algo fora da boca, mas não importava quanto tentava inalar, o ar não chegava aos seus pulmões. Começou a entrar em pânico e justo antes de que o seu sistema dispersasse um fluxo de adrenalina, hormônio de alerta vermelho, conseguiu respirar o oxigênio que tão desesperdamente ela precisava. Foi um momento terrível para ela. É uma coisa não poder respirar, ela pensou. Era outra não poder gritar a sua emergência e pedir ajuda de alguém para cuidar dela. Morava sozinha, dormia sozinha e vivia sozinha. Quem se preocuparia por ela se algo acontecesse mal? Pode imaginar chegar ao telefone, digitar o “192” e escutar, “Qual é a sua emergência?” e não poder pronunciar nada? Foi nesse momento que decidiu que precisava de um parceiro. 

Se deitou de novo tragando saliva, esfregando o pescoço e deixando que o seu corpo se recuperasse do medo. Assim, pouco a pouco, planejou a próxima mudança que entraria na sua vida. 

Por muitas razões Raquel não procurava e não desejava acompanhante. Teria gostado de que alguém lavasse os pratos depois de ela prepar uma comida, sim. Que alguém jogasse fora o lixo no fim da semana, sim. Que alguém compartilhasse as suas partes íntimas com as suas, cálidas, úmidas, brandas. Sim. Mas na verdade, gostava de dormir sozinha, de curtir o silêncio depois do dia laboral e de não ser obrigada a prestar muita atenção aos problemas dos outros. Mas o episódio do bloqueio na sua garganta havia lhe dado um medo enorme e sabia que muito--demais--teria que mudar.

Decidiu criar um perfil em um dos sites de dating da Internet e esperou. O seu nome de usuário era “Heimlich,” à maneira da manobra de Heimlich, ténica que salvava vidas. E não foi difícil. Ela não era feia. De peito não faltava. Era a sua inteligência que a fazia menos adequada para a dupla típica. Eram os compromissos constantes que não lhe interessavam.

Ela elegeu uma foto com um pouco de vista da divisão no decote e esperou. Sabia que serviria como isca. E esperou. Pouco. Chegaram as mensagens na sua caixa de entrada--eram pornográfricas, impessosoais e numerosas. Se houvesse sido uma garota normal, ela se sentiria ofendida. Mas ela tinha uma missão e era mercenária com os seus assuntos. Em que eles estavam pensando, ela queria saber. Quando na totatlidade das suas vidas as fotos desnudas dos seus pênis túrgidos lhes haviam ganhado acesso ao sexo? Então por que ia lhes ganhar direitos a transar agora? O homem é um animal curioso, concluiu.

Mas cada noite que passava representava outro risco de morte sozinha na cama e então seguia motivada. Reduziu as múltiplas respostas ao um mínimo de candidatos e marcaram  datas para se ver.

“Não tem fome? Vai somente tomar sopa?” perguntou o candidato mais promissor. 

“Sim, só isso. Para mim é muito mais seguro,” ela respondeu.

“Como assim?”

“É muito fácil de engolir.”

“Gosta de engolir?” ele perguntou, de repente mais interessado na conversa. 

“Líquidos? Claro. Assim se correm menos riscos.”

“Riscos de que?

“Da morte,” ela disse sussurrando e querendo manter a imagem romántica da reunião. “Quanto menos sólidos ingeridos, menor a probabilidade de... você sabe...” ela continuou.

“Não, temo que não sei.”

“É questão de matemática” ela falou suavemente e mas para ela mesma do que para ele.

Se viram em silêncio.

Ela interrompeu a quietude. “A propósito,” perguntou, “você não recebeu alguma vez treinamento nos primeiros socorros?”

“No quê?”

“Nos primeiros socorros. Por exemplo se alguém se cortar e há sangue, você cura a lesão. Ou se alguém desmaiar, você sabe reanimar. Ou se alguém tose e não consegue respirar--...”

“Já, já, já. Já entendi,” disse ele com uma cara de suspeita. “Fez algum curso desse tipo no passado?”

“Fiz, sim. Faz muitos anos. Quando era rapaz, alguma vez, sim. Quando trabalhava como salva-vidas. Mas isso foi há muito tempo. Quem--

Ela sorriu generosamente. “--Saberia usar essas técnicas se a ocasião surgir? Por exemplo, esta noite?” Ela aproximou-se dele, pondo a mão no joelho dele.

“Fale, fale,” ela disse, interessada e com os olhos brilhando.

“Está me dando um pouco de medo. Por que você me está perguntado isso? O que você está procurando exatamente? Jogos eróticos? Pervertidos? Algum fetiche?”

“Pois co-habitar!” ela respondeu com toda honestidade. “E poder sobreviver a experiência” ela finalizou.


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